“Um povoado, uma vila. No caminho das
águas, histórias de rio e mar... Da terra, as riquezes do passado. Da imensidão
azulverjante do oceano, a riqueza do presente a construir os sonhos do futuro"
Com o enredo “Itapemirim: Sob o
caminho das águas, às suas ordens”, a Unidos de Jucutuquara pretende brigar
pelo seu oitavo título do carnaval capixaba e homenagear o município que
comemora seu bicentenário.
São 200 anos de história. E navegar
pela trajetória de Itapemirim, que fica no sul do Espírito Santo, será um
grande desafio para a Escola. A “Nação” vai levar as riquezas, costumes e
tradições da terra dos índios Goytacazes, da cana de açúcar e referência em
petróleo no Brasil para o sambão do povo. O enredo foi lançado, agora chegou a
hora de convocar o time de compositores para a escolha do samba.
“Daremos tempo para os compositores
criarem, darem o seu melhor. Acredito que teremos uma disputa de altíssimo
nível. O tema encantou o carnavalesco Osvaldo Garcia, que promete um grande
desfile para o ano que vem.”, ressaltou Anderson Ferreira, diretor de carnaval
da escola.
A disputa para escolher samba enredo
2015 da Unidos de Jucutuquara já tem data para acontecer, 27 de julho começa a
primeira fase.
Quem quiser Informações sobre o regulamento do concurso deve
procurar Anclébio Junior, a partir desta segunda –feira (16 de junho).
Outras informações:
Contato: Anclébio Junior.
tel: 028 9998 74698
SINOPSE
Itapemirim: sob o caminho das águas, às suas ordens.
Itapemirim: sob o caminho das águas, às suas ordens.
Pesquisa e
texto Anclebio Junior
“Nasço
nas Minas Gerais e sou alimentado pelas águas vindas do Caparaó. Sou queda e
corredeira e próximo de desaguar no Oceano Atlântico, depois de percorrer
muitas terras, sou navegável. Tornei-me importante ao longo dos séculos de
desenvolvimento desse pedacinho de Brasil, ao sul do Espírito Santo. Muitos
foram os povoados, vilas e depois cidades que cresceram a partir de minhas
margens. Uma delas muito me orgulha, exatamente a que leva meu nome:
Itapemirim.
Fui
cuidado pelos índios Goytacazes. Presenciei a chegada dos primeiros povoadores
que por minhas águas aqui desembarcaram. Vi surgir os primeiros canaviais, as
primeiras fazendas com engenhos que produziam mais da metade de todo o açúcar e
de aguardente do Espírito Santo para abastecer toda a região e que eram
escoadas por meio de um porto construído nas minhas margens.
Sob
minhas águas foram transportados escravos, mesmo sem o meu consentimento, e,
veja só, até mesmo um Imperador, isto sim, muito me envaidece. Foi através de
minhas águas mansas que D Pedro II chegou até a Vila de Itapemirim em 08 de
fevereiro de 1860.
Lembro-me
de, naquela tarde, ver Sua Majestade se encantando com a paisagem do lugar,
registrando tudo em seu diário de viagem. Com sua alma de estudioso e amante
das ciências e das artes, registrou impressões sobre a fauna e a flora e ainda
desenhou um relevo de pedra que avistou ao me navegar e que muito chamou a
atenção do monarca. Era o Frade e a Freira, elevação rochosa que teria tomado
esta forma depois que dois religiosos se apaixonaram e, proibidos de viver o
seu amor, foram condenados a ficar se admirando, esculpidos em granito. Ouvi
muitas vezes essa lenda contada nas embarcações que me navegavam.
D.
Pedro II, o Imperador do Brasil, foi recebido com festa no pequeno porto da
Vila, ao espoucar de foguetes e vivas. A comitiva atravessou a rua principal,
enfeitada de bandeirolas e arcos de folhas de palmito e bambu, como nos dias de
festas da padroeira. Para recebê-lo, fizeram capina, limpeza e aplainamento das
ruas, melhoraram a iluminação de candeeiros e ainda atapetaram toda a extensão
da rua que ia desde o porto até o sobrado da hospedagem. Ouvi dos canoeiros que
transportavam a fidalga aristocracia agrícola que os hotéis e as residências
estavam superlotados.
O
monarca visitou a Matriz onde recebeu a chave da vila e se encaminhou à
hospedagem para jantar e logo depois retornou ao porto para seguir para a
colônia do Rio Novo, onde se encontrou na manhã do dia seguinte com fazendeiros
e inúmeros imigrantes vindos de todo o lugar. Eram belgas, holandeses,
portugueses, alguns franceses e alemães, mas principalmente suíços.
No
caminho de volta a Vila de Itapemirim, D. Pedro II apenas observou as mais
importantes fazendas da região, como a do Barão de Itapemirim, que havia
preparado uma grande festa em seu casarão em forma de castelo, mandando vir da
Corte dois retratos pintados com os bustos de Sua Majestade e da Imperatriz
Tereza Cristina. Contam os canoeiros que o poderoso Barão ficou enfurecido com
a desfeita da comitiva real em não parar na sede de sua fazenda para que ele
pudesse agradecer a condecoração da Imperial Ordem de Cristo e da Imperial
Ordem da Rosa, concedidas a o Barão pelo Imperador.
A
visita terminou com uma passagem de D. Pedro à Casa de Câmara e à escola das
primeiras letras. Logo depois, avistei novamente o Imperador e, sob a tranquilidade
de minhas águas, o vapor o levou novamente ao oceano. Foi um dia intenso e
inesquecível para esse velho rio.
De
lá pra cá, continuei a receber embarcações cheias de mercadorias que chegavam à
Vila e de lá saíam carregadas de açúcar e aguardente. Os novos tempos trouxeram
os vapores transportando pessoas e a nova riqueza da região, o café. Com a
chegada da ferrovia, fui lentamente sendo abandonado e começava a sentir os
primeiros efeitos do descaso do homem com a natureza. A cada dia, ficava mais difícil
navegar-me.
O
tempo passou e a vida seguiu seu curso, minha Vila cresceu e minhas águas
continuaram a ser o caminho que levava ao mar. Um mar que agora se apresentava
como parte da transformação profetizada por Pedro II quando de sua ilustre
visita ao povoado: ‘a Vila de Itapemirim tem ares de florescer...’.
O
sábio Imperador do Brasil ficaria impressionado com o florescimento da cidade.
Florescimento que veio do mar. Mar alimentado por minhas águas. Mar que gera
alimento por meio da pesca que abastece a mesa de todo o Brasil. Mar que é
biodiversidade e que ajuda a manter o frágil equilíbrio do planeta. Mar que
recebe treinamentos da Marinha Brasileira, responsável pela defesa de nosso
imenso litoral. Mar que é beleza e descanso nas belas praias de Itaoca,
Itaipava e na Ilha dos Franceses. Mar que é rio, porque quando deságuo no
oceano torno-me parte dele.
Esse
mar ainda reservava à antiga Vila mais uma surpresa, em sua profundidade estava
uma riqueza que viria a transformar por completo a vida dos habitantes do
lugar. O "ouro negro" como é chamado o petróleo que se encontra em
sua costa e veio para encher de esperança e fazer tornar-se realidade o sonho
do meu povo de ver uma cidade mais desenvolvida, com mais oportunidades e mais
justa socialmente.
E
eu, apenas um rio, vou continuar sendo um caminho de águas a abençoar minha
antiga Vila e seu povo, para todo o sempre".
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