Numa
atitude pioneira no carnaval capixaba, um grupo de senhoras, sob a
coordenação de Rita de Cássia da Silva, responsável pela ala das
baianas da MUG, estão empenhadas na criação do primeiro Instituto
Brasileiro Ala das Baianas, que tem como objetivos a valorização
dessa categoria junto às diretorias das escolas e o reconhecimento
junto à comunidade do samba.
De
acordo com Rita as baianas necessitam de uma atenção especial das
diretorias por se tratarem, em sua maioria, de pessoas idosas,que
por falta de acolhimento, se afastam dos trabalhos da escola
aparecendo somente no dia do desfile, e acrescenta: “Temos que
envolvê-las nos trabalhos, traze-las de volta, estamos lutando em
todas as frentes para que as velhas “mães” sejam perpetuadas,
queiram ou não, elas são um espetáculo à parte dentro dos
desfiles”.
O
Instituto Brasileiro Ala das Baianas já envolve, além da Mug, as
seguintes escolas: Novo Império, Boa Vista, Imperatriz do Forte,
Jucutuquara e São Torquato. “Nós, do Instituto, temos trabalhado
junto às
escolas para que as baianas sejam vistas não somente na avenida, mas
que recebam apoio durante todo o ano como acontece com alguns
setores”, relata.
E
continua: “Felizmente nossos esforços já começaram a surtir
efeito, no próximo dia 09 de dezembro a
Bateria da MUG
viajará para o Rio de Janeiro e
o Mestre Junior
incluiu um grupo de baianas. Segundo Rita “isso
já é uma vitória para a classe, pois elas terão a oportunidade de
contatar uma nova realidade e trocar conhecimentos “.
Mas
os obstáculos para essas velhas senhoras não estão somente dentro
das escolas. Nos últimos dias Rita se deparou com críticas
desfavoráveis ao projeto apresentado pela deputada Luzia Toledo no
sentido de designar o dia 25 de novembro como “Dia
estadual
para as Baianas
de
Escolas de Samba”.
“Se existe dia da consciência negra, dia dos pais, dia dos
namorados, etc. Por que não pode haver um dia para as baianas ?”
Questiona ela, incrédula com as proporções dos comentários, e
acrescenta: “Não foi ideia da deputada, fui eu que pedi isso”.
Rita de Cássia da Silva, a mãe Rita, coordenadora da Ala das Baianas da MUG
O
Espetáculo das Baianas – Muito Axé
E
Rita está certa. Quem não se emociona ao ver o rodopiar majestoso
das baianas ao desfilar na avenida? Sua passagem é sempre esperada
pelo público, pois não há quem não goste dessa ala. Composta, em
sua maioria, por senhoras idosas, mães e avós; as “tias”, como
são chamadas, conseguem sustentar fantasias que chegam a ultrapassar
20 quilos, tudo por amor e dedicação ao pavilhão. Elas são a
memória viva de uma escola de samba e têm muitas histórias para
contar sobre como eram o samba, os sambistas e os carnavais de
antigamente.
Apesar
do carnaval vir sofrendo transformações visíveis, as baianas
permanecem inalteradas, elas são a ligação entre passado poético
e o presente glamoroso. Em cada rosto marcado pelo tempo as baianas
nos remetem a uma história de africanidade. Elas conservam a mesma
roupa clássica, composta de torso, bata, pano da costa e saia
rodada, que se apresentavam quando surgiram os primeiros grupos de
samba.
Tal
e qual no passado uma baiana não samba, ela evolui e sua evolução
é diferente dos demais componentes, ela se movimenta em rodopios que
podem ou não ser constantes. Com suas fantasias pesadas, elas giram
as saias o tempo todo ao longo da avenida e esse giro vem do
candomblé. A palavra ‘giro’ significa ‘abre caminho’. É
isso que elas fazem na avenida, elas giram para abrir os caminhos,
para purificar o local.
Desfile de baianas - Carnavais de 2013 a 2016
A
Origem está na Religiosidade
E
essa religiosidade começou com o povo africano alforriado que migrou
da Bahia para o Rio de Janeiro fugindo das perseguições sofridas
pela polícia. Eles influenciaram no samba e na cultura negra de uma
maneira tal, que conseguiram eclodir a maior manifestação cultural
de todos os tempos: O Carnaval Brasileiro.
Um
desses migrantes foi a tia Ciata, uma das muitas baianas
mães-de-santo, que chegou ao Rio de Janeiro no final do século XIX,
trazendo o seu terreiro de Candomblé. Naquela época o samba era
proibido e a tia Ciata abrigava os sambistas em sua casa, ponto de
reunião dos negros e mulatos, que além de frequentarem os cultos
africanos, perseguidos pela Lei e pela Igreja, também se divertiam
em rodas de samba em suas poucas horas de descanso.
Por
gratidão, respeito e simpatia, quando os grupos de samba saíam às
ruas, todos passavam na porta da casa da tia Ciata. E quando as
escolas de samba surgiram, por volta de 1930, as baianas passaram a
fazer parte como uma forma de homenagem. Conta-se que nos primórdios
das escolas, eram os homens que saíam de baianas, devido à falta de
segurança e a violência que rondavam as manifestações
carnavalescas populares.
Ala
de Extrema Importância
Tradicional
e obrigatória, a ala de baianas é considerada como uma das mais
importantes em todos os desfiles de escola de samba, mesmo não sendo
quesito oficial em nenhum deles. Como
todos os componentes do desfile, suas Fantasias também
são
avaliadas pelos jurados. Elas tem que desfilar em formação
e em
consonância com as outras Alas, para a escola
não perder ponto em Evolução e tem que cantar o samba enredo, caso
contrário prejudicam a Harmonia.
Não possuem posição específica dentro de um desfile, podendo
aparecer em qualquer lugar, de acordo com o enredo e o organograma
preparado pela escola
Andaraí 2015 Barreiros 2014
Barreiros 2015 Boa Vista 2014
Boa Vista 2015 Chega Mais 2014
Chega Mais 2016 Imperatriz 2014
Jucutuquara 2015 Jucutuquara 2016
M U G 2015 Novo Império 2013
Pega no Samba 2016 Piedade 2012
Piedade 2016 Rosas de Ouro 2014
São Torquato 2015 Tradição Serrana 2014
Tradição Serrana 2016 Encontro das Baianas na Piedade 2015
Pelo regulamento da LIESES – Liga Espírito-Santense das Escolas de Samba é exigido um
número mínimo de 50 componentes para o grupo especial e de 30
componentes para o grupo A.Apesar
da ala não contar pontos, se a escola entrar na avenida sem as
baianas, ou sem o número mínimo, a agremiação será penalizada
com a perda de pontos.
É
grande a preocupação em reunir o número mínimo de baianas exigido
para o desfile. Algumas senhoras, com o avanço da idade, já não
suportam mais o peso da roupa além de ter que rodar, cantar e
evoluir. E muito embora haja senhoras de 50 anos que não estão
aptas, por
outro lado, pode haver uma baiana de noventa anos em perfeitas
condições físicas. Mas uma coisa é certa, enquanto a saúde
permitir nenhuma baiana abandona o prazer de desempenhar com
garbosidade o seu papel na avenida.
Da. Élida, tem lá seus 90 anos e em plena atividade !!!
Andaraí 2016 Andaraí 2014
Barreiros 2016 Boa Vista 2016
Chegou o que faltava 2015 Jucutuquara 2014
M U G 2014 M U G 2016
Novo Império 2015 Novo Império 2014
Pega no Samba 2014 Pega no Samba 2015
Piedade 2015 Rosas de Ouro 2016
São Torquato 2014 São Torquato 2016
Tradição 2015
Nadyr
dos Santos – É
uma das baianas show que viajará para o Rio de Janeiro, e diz: “Será
uma experiência fantástica, vamos levar e trazer conhecimentos”.
Nadyr tem 78
anos e desfila pela Mug há 14 anos, tendo desfilado uma
vez na
Jucutuquara. Ela se considera realizada e sobre o peso da fantasia,
diz que quando entra na avenida a satisfação é tanta que “nem
sente nada”. Já
passou por momentos difíceis durante o desfile e foi até o fim .
“Dizem que meus olhos brilham quando estou desfilando, ou mesmo
numa simples apresentação nos ensaios” afirma Nadyr.
Nadyr dos Santos
Rita
Correia Ramos – Ela
é Baiana Show de todas escolas. Chamou, ela está dentro. No
carnaval de 2016 desfilou por 7 escolas: Imperatriz do Forte,
Jucutuquara, Andaraí, Pega no Samba, Mug, Tradição Serrana e Rosas
de Ouro. Com 65 anos e muita disposição ela explica que sempre se
organiza dando um intervalo entre uma escola e outra. “Quando saio
da dispersão, já vou correndo por trás do sambódromo, troco a
roupa rapidamente e entro na passarela para brilhar uma vez mais”,
fala com entusiasmo. E diz que toda essa energia é porque ela adora
o que faz, mantém uma alimentação saudável, além de não beber e
não fumar.Além
de Rita , outras baianas fazem a mesmo trajetória, desfilando
em várias escolas, entre elas : Osmina, Bina, Eva, Ana e Matilde.
Em pé: Eva, Osmina, Bina e Ana. Sentadas: Matilde e Rita
Ana
Bina Eva
Osmina
Rita
Sueli
Bleicker – A
baiana loira da Boa Vista, sim, loira. Quando se fala em baiana se
pensa em uma senhora mulata ou negra, de cabelos escuros. Mas Sueli
foge à regra. Ela rodopia com seus cabelos longos soltos e um
constante sorriso nos lábios. “É só alegria participar dessa
ala, diz Sueli, e para mim é uma terapia”, e completa, “é
também uma vitória, pois achei que não conseguiria me equilibrar e
rodopiar devido a um problema de saúde, mas estou fazendo tudo muito
bem. “Ser baiana é liberdade”, finaliza a loira.
Sueli
Rejane
Oliveira Aguiar – Nasceu
na comunidade da Piedade, tem 55 anos, e desde que se entende por
gente desfila pela escola. Já foi Porta Bandeira, e de seis anos
para cá participa da ala das baianas. Faz parte do grupo de baianas
show, desfila por muitas escolas todos os anos, entre elas Imperatriz
do Forte e Rosas de Ouro, mas faz questão de falar que apesar dos
problemas que as baianas da Piedade estão sofrendo com a nova
coordenadora da ala, por amor a escola ela não se afasta, e diz.
“Antes de desfilar por qualquer outra escola eu prefiro desfilar na
minha primeiro”.
AMEI! S2
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