REPORTAGEM ESPECIAL - “SAMBA, A QUÍMICA DA ALEGRIA¨"


Samba, a química da alegria”
Samba no pé, nas atitudes e não alma









Carnaval chegando e não existe melhor momento para o blog levantar um assunto que já havia detectado há anos. O grande número de profissionais da saúde participantes em todos os segmentos de uma escola de samba: São destaques, passistas, ritmistas, mestre-salas, rainhas, musas, etc, que tem o samba como opção para afastar os sintomas do estresse e de lidar no dia a dia com a dor física e mental dos pacientes e dos seus parentes, além dos próprios problemas pessoais.

Segundo Nascimento e Ferraz (2010), no artigo ESTRESSE NOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO SETOR DE URGÊNCIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA, “o ambiente de trabalho é o local onde mais incide a ocorrência de estresse, comparado com qualquer outro local ou situação”.
Mesmo consciente de que existem dentro das escolas de samba profissionais de outras áreas na mesma condição, para falar sobre o assunto o blog decidiu tomar como referência apenas os profissionais da saúde, precisamente médicos e enfermeiros, por estarem mais vulneráveis, principalmente os do setor de urgência.

Terapia da alma

Embora o samba seja majoritariamente de negros e mestiços, ele ultrapassa essa condição dos sambistas espontâneos quando toca na alma do Ser. Noel Rosa observou exatamente isso em sua canção “Feitio de Oração(1932), ele já dizia:

O samba na realidade
Não vem do morro
Nem lá da cidade
[....]
Nasce no coração

Quer dizer se estende a todos, destrói preconceitos, permite a pessoa se entregar e dar um tempo nos seus ‘não devo’ e simplesmente curtir o momento. “Um exercício espetacular que muitas vezes leva anos num consultório de terapia para se conquistar, uma experiência libertadora do nosso ego, é uma renovação química para o nosso cérebro e para nossas emoções”, diz Rosália Schwark, Psicóloga Especializada em Neurociência e criadora do Método Movimento Perfeito.

Mais recentemente, o grupo musical O Povo do Samba fala sobre isso em sua música “Minha Terapia”:

Minha vida é cantar amor
Canto samba noite e dia
É que o samba tem muito valor
Porque traz minha alegria
[....]
Samba é minha terapia
Quando estou numa aflição
Samba é filosofia, cultura e religião
É que o samba irradia
Dentro do meu coração.

Muita gente que tem um dia atribulado encontra no samba uma experiência libertadora, vejam alguns depoimentos a seguir:

WEBERTON GOMES DA SILVA, 44, MÉDICO ANESTESIOLOGISTA E DESTAQUE DE ALEGORIA NA MUG - Ele diz: ”O carnaval é uma festa de alegria e durante minha infância sempre brinquei nos blocos ao lado de minha família. Resolvi participar como forma de diversão e alegria, somados ao alívio da tensão do dia a dia do trabalho, que exige muita responsabilidade com compromisso da saúde e o bem estar dos pacientes, que confiam a mim os cuidados de sua vida. É o meu momento de confraternização com amigos, de diversão e extravasamento, também uma forma lúdica de fantasias e sonhos”, e continua, “escolhi ser destaque porque gosto dessa brincadeira de vestir o personagem e fazer parte da história do enredo a ser apresentado”, finaliza.


 


ADELSON RUGE DA SILVA, (NEGO DÉ) 44, TÉCNICO DE ENFERMAGEM E INTÉRPRETE DE APOIO DA NOVO IMPÉRIO - Fala o seguinte: “Trabalhamos numa área em que temos que lidar com muito amor, lidar com o que tem dentro da gente em prol de uma outra pessoa. É uma área que não tem reconhecimento e nem por isso deixamos de exercer a enfermagem com vontade. No meu caso, Quando saio do hospital onde lido com mortes e doenças, preciso deixar para trás tudo o que está ali, dessa forma, o samba entra dentro de mim, desestressa, alivia a carga de lidar com a mente e coisa pesada do HEAC - Hospital Estadual de Atenção Clínica (antigo Adauto Botelho)”. Conclui.


 




ANDRÉA BARBOSA, 43, ENFERMEIRA E MADRINHA DE BATERIA DA UNIÃO JOVEM DE ITACIBÁ - Conta que há um ano descobriu um tumor no seio, mas isso não a impediu de entrar na avenida e continuar suas atividades no dia a dia. Para ela “fazer parte do mundo samba elimina toda carga negativa e emocional, e a gente acaba transferindo para outras pessoas a experiência de ajudar o próximo”. Andréa ressalta que “o samba, apesar de ainda sofrer muito preconceito e marginalidade, tem o poder de curar pessoas de qualquer enfermidade, física ou mental”, afirma.



 


BRUNO SANTOS FILHO, (BRUNO SIMPATIA) 34, ENFERMEIRO E MESTRE SALA DA BOA VISTA - Disse o seguinte: “Decidi fazer enfermagem por amor e por ter parte da família envolvida com a saúde. São quinze anos trabalhando na área. Tenho 19 anos de Mestre Sala, e no samba encontro um refúgio para combater o estresse da correria do hospital e da urgência. Nesses momentos consigo descontrair e esquecer o sofrimento de lidar com a dor do paciente e do familiar do mesmo”. Ele termina dizendo que é através da dança, que faz parte de sua vida como fosse seu segundo trabalho, que ele se descontrai do abalo emocional do trabalho, e finaliza, “não ganho no financeiro, mas recebe em qualidade de vida”.









SHIRLEY OLIVEIRA, 40, ENFERMEIRA DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E MUSA DA BOA VISTA - Ela explica que trabalha mais ou menos treze horas por dia e vai para a escola de samba para desestressar, pois na função dela se depara com pessoas carregadas de problemas emocionais, físicos e mentais. Apesar desses fatores, se sente feliz e realizada na profissão. Ela fala: “A gente acaba por se adaptar e vê que está fazendo o bem para a pessoa”, conclui.





E assim, com a ajuda do samba, a vida segue com menos tensão, como analisa Rosália Schwartz, “produzindo a química da alegria, uma mistura de neurotransmissores se ativam, dopamina, noradrenalina, serotonina, uma sopa de bons ingredientes se derramam nas redes neurais, o que garantem um corpo e mente bem fortalecidos”.



Por Marinete Coelho, com a participação de Dicesar Rosa Filho





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